19.4.06

Contra a tristeza

Ninguém consegue ficar triste tendo em casa um gato e um laser-point...

13.4.06

Exercício

Estou apenas tentando cumprir os compromissos. Sem emoções, ou pelo menos sem demonstrar qualquer uma que seja. Puro protocolo. Invento histórias para dar cor a isso que virou minha vida. Leio livros e me coloco no lugar do protagonista, assisto a filmes e me vejo como o herói, ou aquele vilão meio seboso, ou mesmo um simples figurante, quase parte da paisagem. Pelo menos a sensação de pertencer a algo, ter influência em fatos, determinar ações, ser o fio da meada que conduz a mim mesma por um labirinto sem Ariadne, sem Minotauro, sem penas de pássaros ou colméias que me forneçam cera, construir asas assassinas que me levem de encontro ao sol. Ah, o sol, com seu calor, sua energia que só nos serve a distância, porque de perto.

Incrível como a cerveja desse bar é quente. Por que não tiram desse canal barulhento, ou desligam de uma vez a TV? O banco é preso à barra do balcão, meus joelhos se chocam com os tijolos frios. Um cheiro de fritura, uma luz desnecessária, e essas pessoas que riem tanto por que, meu deus. Meus pulsos doem só de levantar o copo, talvez se aqui dentro fosse mais escuro a sensação de frio fosse menor. Mas não, é uma luz de padaria, de laboratório. E nem vendem a minha marca de cigarro.

Eu podia ir embora, claro. Simplesmente pagar a conta, levantar e procurar um lugar melhor nessa cidade cheia de lugares que podem ser melhores ou piores, depende. Mas não. Autoflagelo. Fico.

É que ninguém. Aqui, não há possibilidades. Uma espécie de segurança. Aqui, ninguém me pega.

Aqui, sou eu que pego, se quiser. E quando quero, é fácil. Às vezes basta olhar, todo mundo é muito atento, deve ser a luz de laboratório, cobaias, testes a serem feitos, não importa o resultado. Dependendo do horário, tem que ser mais. Cruzar as pernas, esquece, esse balcão maldito. Tem que levantar, pedir licença, pegar o guardanapo, o catchup, o palito, a puta que o pariu, mas pegar algo numa mesa ou na outra ponta do balcão, e nesse movimento roçar alguma parte do corpo que não deixe dúvidas. Aí sim, o olhar. Um sorrisinho besta, meu deus, como eles caem nessa? Um ar de presa, de caça abatida, a pata ensanguentada nos dentes de uma armadilha invisível.

Depois é só deixar eles pensarem que a idéia foi deles. Que é deles a ação, a iniciativa, o inevitável “vamos pra um lugar melhor”, sim, os lugares melhores ou piores da cidade. E eu vou, conduzida, sorridente gueixa servil sem dar pinta de mulher rodada, que aí baixa o tesão e dá muito mais trabalho.

Normalmente, o “lugar melhor” é nos fundos do bar, uma rua escura, que isso é o que não falta. Sabe registro de água, aquele murinho? Em baixo, o relógio marcando o consumo, em cima, as pernas abertas, uns beijos babados, um pau que eu nem consigo ver se é bonito. É, tem isso, uns paus bonitos, esteticamente aceitáveis. Que pau, vamos combinar, pau é feio pra caralho. Olha só que frase bonita. Tem isso, também. Frases bonitas.

Que mais? Ah, foi ótimo, claro, a gente se encontra, eu sempre venho aqui. E nunca mais. Aí casa, banho, cama. TV ligada, cigarro, qualquer coisa com teor alcoólico acima de 15. Sem cúmplices. É, testemunhas, bichos, cachorro, gato, peixe, passarinho. Nada. Só eu.

Às vezes não tomo banho. Pra achar que tem mais alguém. É, cheiro. Basta.

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