4.6.14

Viagem através de um misto quente

O título se explica porque a reflexão se deu enquanto eu fazia um misto quente, sabe-se lá por quê. Dito isso, passemos à reflexão em si: fui convidada (ou entrei de penetra, não sei ao certo) para um evento virtual de confraternização entre Sonserina e Grifinória (se você não conhece essas palavras, apele para o Google e aceite meus sentimentos). E fiquei pensando que, se Harry Potter tivesse nascido no Brasil, a maravilhosa cerveja amanteigada teria sido censurada. Uma perda inestimável para o imaginário de muita gente, eu inclusive, que não canso de imaginar o sabor dessa iguaria (faltou coragem para enfiar uma colher de manteiga num copo de cerveja, confesso). Daí passei para o politicamente correto. Óbvio que piadas devem ser feitas com opressores, não com oprimidos, para causar reflexão. Óbvio que humor que envolva incitação à violência e preconceito deve ser rechaçado energicamente. Mas fiquei pensando nas convenções que ditam o uso de “afrodescendente” ao invés de “negro”, por exemplo. E me ocorreu que convencionar o uso de uma palavra pela outra não adianta muita coisa sem a explicação para tal atitude. De nada serve o politicamente correto se ele não vier atrelado à educação, ao esclarecimento, à denúncia, ao questionamento. A língua de um povo é viva. O dia em que o uso de “afrodescendente” no lugar de “negro” for espontâneo, e não obrigatório, aí estaremos bem.