27.6.06

Precaução

Informo aos interessados que o nome do goleiro de Gana é Adjei. Freezer nele!

22.6.06

Mãe 2

Mais ou menos 30 minutos do segundo tempo.

- Mãe, isso é hora de ligar?

- Desculpe... Liguei no intervalo, você não atendeu... Eu precisava te falar. Escrevi o nome dele num papelzinho e coloquei no freezer.

- O que? Nome de quem, mãe?

- Do goleiro do Japão...

16.6.06

Errata

"A teoria da recepção manifestou a importância do leitor na co-produção do significado do texto e destacou a ativa implicação do indivíduo receptor na atribuição de significados durante o ato de leitura. Esta orientação serviu para precisar que ler não é só decodificar os signos do sistema da língua, como também construir significados. (...) O leitor adapta a informação recebida pelo texto, matiza-a em virtude das suas particulares condicionantes de recepção, estabelecendo conexões entre o que o texto diz, o que sugere e os seus conhecimentos prévios sobre a temática, sobre o estilo etc. do texto com o que interatua."
(A Estética da Recepção na Literatura Infantil - Armindo Mesquita - http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/infantil/armindo1.rtf)

Em virtude do acima exposto, e já que não há controle sobre a recepção de textos - por mais evidentemente ficcionais que eles sejam -, o post de título "Pelego", postado ontem, foi excluído deste blog. E que Deus ajude a quem tenta fazer literatura.

15.6.06

Feriado

Uma, quarenta. Outra, setenta. Viajavam juntas como se fosse uma despedida. Um bota-fora de sete dias pelo Sul, que é menos quente, minha filha, por favor, Nordeste não.

Café da manhã de hotel quatro estrelas. Mãe, calma, olha a diabete. Mas é tanta coisa gostosa, só um pouquinho. Ué, você só vai comer isso? Não tô com fome agora. Mas só isso, café com leite, pão com manteiga, só? É, mãe, só. Quando você era criança odiava isso, eu insistia mas você só queria leite com chocolate e sucrilho.

Essas viagens só servem pra engordar a gente, parece que acabamos de tomar café e já estamos almoçando. É, mas pelo seu prato, parece que você não come há meses. Quer parar de pegar no meu pé? Antigamente era eu que fazia isso com você. É, mas agora sou eu que tenho que ficar cuidando do seu colesterol. Eu sei me cuidar muito bem. É, tô vendo. Cara feia, caramba, pra quê? Desculpa, mãe, que bobagem, come o que quiser, quer um pouco de carpaccio? Nunca comi. Então experimenta, cê vai gostar. Ué, arroz e feijão? É, uai, não pode? Mas com tanta coisa pra escolher? Olha essa truta com molho de maracujá, esse purê de ervas! Mas, mãe, eu quero arroz e feijão, e essa carninha de panela, nem é tão boa como a sua, mas tá gostoso. Eu não tô entendendo nada. Quando você era criança, detestava arroz e feijão, era uma luta te fazer comer, só queria batata frita. Cê não vai pegar batata frita?

Nossa, quanto CD. Tem uma loja assim em São Paulo também, mãe. É, mas lá você nunca me levou. Eu sei. Vou levar. Não precisa, prefiro aqui. É, mas eu vou levar lá em São Paulo também, no dia em que a gente for no japonês. Êba. Olha, esse CD é bárbaro, vou levar. O quê?! Credo, mãe, que é isso, não precisa gritar. Como, o que é isso? Eu é que pergunto. Você vai levar um CD da Doris Day? Mãe, eu adoro a Doris Day. Mas como, como? Quando eu queria ouvir Doris Day você ficava reclamando, nem me deixava ouvir, eu tinha que ficar escutando Led Zeppelin. Eu ainda gosto do Led Zeppellin. É, mas você odiava a Doris Day. Quem gostava dela era eu.

E agora, aonde a gente vai? Como assim, mãe, não tá cansada? E desde quando concerto cansa? Cê entendeu. Ah, vamos tomar um chocolate quente. Sua diabete vai explodir no próximo exame... Seu pai morreu se preocupando com isso e olha só, morreu. Ficou sem tomar chocolate quente quase 10 anos e morreu. Mãe, se ele tivesse tomado chocolate quente, teria morrido há dez anos. É, mas teria morrido rindo. Olha que bonito, morrido rindo tem um som legal. Morridorindo morridorindo morridorindo. Mãe, o Chopin te deixou doida, é? Ué, era você que gostava de prestar atenção nesses sons, nos sons das palavras, lembra? E agora acha isso coisa de doido e quer me levar pra dormir às 11 da noite, quem diria, justo você, que brigava pra passar a noite fora. Mãe, tá frio, só tô preocupada com você. Quando você queria se divertir, você não se preocupava comigo. Agora sou eu que quero me divertir e você fica aí, se preocupando...

Quanto tapa na cara, quanto espelho pra encarar. E ainda é o primeiro dia.

2.6.06

Afinal


Não costumo escrever esse tipo de post aqui, um espaço que idealizei para literatura em outras pessoas que não a primeira. Mas o motivo merece a quebra de protocolo. Finalmente, o há anos extinto "Trevo", de Orides Fontela, foi reeditado. Mais: acrescido da produção dos oito anos últimos da autora. A edição é da Cosacnaify, linda, digna do recheio. Não percam. Vale cada centavo dos R$ 55,00 (na artepaubrasil.com.br está por R$ 44,00).

Abaixo, um pequeno petisco, bom pra abrir o apetite pelo livro...

FALA
Tudo
será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave.

Tudo será duro:
luz impiedosa
excessiva vivência
consciência demais do ser.

Tudo será
capaz de ferir. Será
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.

Não há piedade nos signos
e nem no amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.

(Toda palavra é crueldade.)