6.12.05

Então vamos lá, vamos logo encarar isso de frente e começar com os atos ridículos. Previsíveis, quase ensaiados. Vamos lá, abrir a geladeira e começar a chorar ao ver a garrafa de leite, e não por não poder bebê-lo, mas porque ele está lá por uma pessoa que não volta mais. Vasculhar o armário da cozinha em busca de coisas que não como, guardar as roupas que trouxe de volta, espólio de uma guerra longa e perdida. Vamos lá, vamos chorar à vontade por coisas banais, que são as que mais doem, estranha característica dessas coisas que doem. Excluir um contato da lista de endereços, a pergunta educada do programador, “você está pronto para excluir essa pessoa?”. Não. Mas é uma parte das coisas a serem feitas agora que as únicas esperas são a hora de sair do trabalho, ir pra academia, voltar pra casa e ver os pedaços que ficaram da tua vida na minha. Um banho e depois morrer até o dia seguinte, quando tudo começa de novo e sem você. Vamos lá, um novo dia atrás do outro, mesmo que seja entre lágrimas, mesmo que tudo pareça sem cor, mesmo que as canções desafinem, até que a certeza da tua partida fique marcada em meu corpo como uma tatuagem mal escolhida, carregar pra sempre um sinal indesejado, um erro, um atestado frio da minha inabilidade em te amar, da minha pressa em ter certeza que, dessa vez, tudo ia dar certo, tudo ia ser vinho e rosas e uma casa grande e ensolarada. E a cada manhã descobrir que pra sempre é só um amargo na boca, um medo nos olhos e nenhuma vontade de ser feliz.

postado originalmente em 16.03.05

2 comentários:

Anônimo disse...

Jam,faço das tuas dores e palavras também as minhas. "As coisas banais são as que mais doem..."
Não sabia do seu blog. Gostei dos seus textos. Espero que tudo já tenha "entrado nos eixos" para você. :-j

Cronópios Editora disse...

Pôxa, anônimo, se identifique, por favor...