6.12.05

Pois que, então, assim de repente e meio sem propósito, eu acredito. Conveniente pra mim, claro, acreditar no que me escreves, brecha necessária à entrada do ar, aquele facho de luz que custa tanto fazer de conta que é verdade nos sets de filmagem. Sabe aquela tirinha de sol com poeira a fazendo visível? Tão difícil de criar, tão bonito quando é natural, sem a necessidade de imprimir na película, na memória, no dia-a-dia. Ela existe, e pronto. Mas pra parecer sério, quanta luta.
E de luta estou cansada. Então, acredito. E é bonito e puro que seja assim, penso, enquanto as previsíveis lágrimas acrescentam uma quase música à cena, eu de óculos revivendo o que poderia ter sido. Sim, teria sido cinematográfico, eu abraçando tua carência e comprovando que é preciso muito pouco para ser feliz. Te fazendo acreditar, como eu preciso, que nunca mais o abandono, as dúvidas, o não-querer. E outra vez de repente descubro que seria mesmo possível, como explicar de outra forma essa vontade de te cuidar como se um passarinho, sim, é uma figura gasta, mas como se um passarinho muito novo e frágil caísse em meu quintal e eu tivesse recebido a divina missão de alimentá-lo com minha própria carne, com a água de mim que o faria ver como toda a dor é passageira, refletido agora forte e livre no espelho de nós. Então me surpreendo com a beleza das possibilidades que nunca se concretizam, mas que vivem muito calmas nas estantes, serenamente à espera. Lembro da tua mão na minha, penso mais um pouco no que poderia ser. E adormeço.


postado originalmente em 20/04/05

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